Ser antes de ter é o objetivo do homem moderno

Qual era o símbolo do homem bem sucedido 20 anos atrás? Por muito tempo, o cara que passava várias horas dentro de um escritório, que não tinha tempo para ver amigos, filhos ou cuidar de si, mas conseguia ser o provedor do lar era exemplo para muita gente que estava construindo a carreira.

No entanto, com a mudança de geração, mudou também o pensamento e a organização da sociedade de maneira geral. Desde o início dos anos 2000, no Brasil, mais famílias passaram a ser chefiadas por mulheres. Uma pesquisa coordenada pela Escola Nacional de Seguros revela que que quase 30 milhões de lares são chefiados por elas. Uma mudança nas relações de gênero, apesar da diferença ainda ser considerável, principalmente na divisão das tarefas do dia a dia.

Mas que tarefas são essas? Não só ajudar a lavar louça ou separar a roupa suja. O homem atual começa a aprender que pode (e deve) dividir o trabalho com os cuidados da casa, buscar o filho, comparecer a uma reunião na escola, se exercitar ou fazer qualquer outra atividade. Aos poucos, dá um novo significado para a vida ao perceber que o trabalho não é o responsável pelo sentido de tudo.

“Sei que a sociedade tem essa coisa enraizada de ‘a mulher cuida dos filhos, o homem traz o sustento’, mas isso é tão 1800 que, francamente, já deveria ter ficado nos livros de história. Minha postura com meu filho – e mesmo antes dele nascer – sempre foi essa. Cuidar dele, cozinhar, planejar o cardápio e as compras da semana, trocar fralda, passar uma vassoura na casa (coisa que eu detesto) são apenas tarefas do dia-a-dia que não pertencem a um gênero ou outro: pertencem ao mundo real, à família como um todo”, afirma o executivo Alexandre Scaglia.

Alexandre é o tipo de homem que 20 anos atrás provavelmente sairia do escritório às 9 da noite e ainda daria uma esticada em um jantar com diretores. Semana passada, ele, que é diretor de comunicação para América Latina da CA Technologies, uma empresa desenvolvedora de softwares, avisou o chefe com antecedência e saiu às 4 da tarde porque tinha um compromisso importante: a primeira reunião de pais na escola do filho. “O que eu vejo é que ainda há homens que se envergonham do fato, fazem piada. Infelizmente a minha geração ainda é a parte inicial dessa mudança de conceito e forma de viver a vida. Espero que essa maneira de pensar deixe de ser maioria muito em breve”, assinala.

“É preciso ter uma vida que não seja automática, robótica, que não seja banal. É preciso que a gente, vez ou outra, não entre em angústia ao se perguntar ‘por que estou fazendo isso?’ ou ‘onde estou com a cabeça?’ ou sentenciar ‘se eu pudesse, eu largava tudo’. Essas expressões são sintomas de uma doença, que não é a depressão, enquanto patologia, mas uma certa desorientação em relação ao sentido daquilo que se faz”, afirma o filósofo e escritor Mario Sergio Cortella, nesta entrevista ao jornal Zero Hora.

Por isso, pouco a pouco, hábitos mais saudáveis, tanto física quanto psicologicamente, começam a trazer um novo valor para a vida do homem. O uso de um transporte alternativo, como a bicicleta, para economizar tempo e fazer uma atividade física. A obrigação de sair no horário para buscar o filho na escola. O grupo de amigos que consegue se reunir uma vez por semana para conversar ou estudar. Exemplos de pequenos gestos, óbvios, até, mas que perderam o sentido para o velho homem.

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